Era um domingo de Páscoa, como será amanhã, acho que foi umas das mais tristes da minha vida... Estava um dia lindo (é incrível como em dias tristes para mim o Sol brilha e o céu está azul).
Desde janeiro, quando ficamos sabendo da mudança, minha vida era chorar. Deixar Maringá, meus amigos, minha vida que estava começando aos quinze anos, para vir para um lugar que eu nunca tinha ouvido falar e se falava que faziam 40º graus na sombra, era o fim!!!
Na viagem, o Rafa, que na época tinha 8 anos, ficava perguntando como sempre "Pai, é essa?" e meu padrasto dizia "É depois dessa.", e eu sempre olhando o mapa. Minha referência era um rio... Lá pelas tantas, olho pela janela e penso " Que cidade estranha, só tem 4 prédios. No quarteirão que eu morava devia ter uns 8!" De repente, vejo um rio e lembro " na história não tinha um rio?". Já quase em cima da ponte, o Rafa pergunta "Pai, é depois dessa, né?" e meu padrasto "Não, é essa aqui!", imediatamente o Rafa devolve "Não, não é, é depois dessa!" Nessa hora, em pleno desespero, peguei minha mãe pelo cinto de segurança, para ela acordar e participar da minha desolação...
Pra nos agradar, o Dago entrou pela Beira Rio. Estava lotada, gente andando de jet ski, e eu só me perguntava o que era aquilo. Fomos conhecer nossa casa, como eu senti falta do nosso apartamento de Maringá (piso de taco, paredes de cor palha, lindo)! Não vou descrever nossa casa...fui tomar um ar, entrei no carro e tentei sintonizar uma estação, parava sempre na mesma. Minha mãe disse que era porque o carro estava mal estacionado, vem uma vizinha diz: "Só tem uma rádio aqui!". Mais uma vez nessa hora tive vontade morrer "O que eu ia fazer sem Transamérica??"
Fomos na casa do chefe do Dago (que Deus o tenha. Ele e um dos filhos morreram no fim daquela ano quando estavam indo para o Uruguai, sua terra), o responsável por nossa vinda para cá. Amei a casa dele, aquele castelinho perto da Beira Rio. Quando chegamos lá, eles nos contam que o filho de um amigo nosso, que veio de Cascavel passar o feriado, tinha morrido afogado no sábado. Entrei em pânico.
Para fechar as decepções do dia, chegamos no Arvoredo às 22 hr e estava fechando. ONDE EU VIM PARAR!!! Assim conhecemos o Palhoça...
No outro dia, fui acordada pelo Sol dentro do meu quarto. Quando o Dago chega com a matrícula da escola outro baque: início da aula 7:00 da MANHÃ!!! Pensei que só podia estar errado, eu estudava à tarde!!! E lá no Sul às aulas da manhã começam às 7:30. Segundo caso, este passa pela minha cabeça até hoje: escolher entre MAGISTÉRIO e CONTABILIDADE. Quão diferente seria minha vida se eu tivesse escolhido Contabilidade?
Os dias, ou melhor, meses que se seguiram se alternaram entre risos e lágrimas... Eu só ía da escola para casa de casa para o correio. Escrevia cartas contanto meu calvário, bolava jeitos de irritar as pessoas, pensava no dia que eu iria embora e jogaria uma bomba na ponte para eu não ter que voltar e tentava me acostumar com as diferenças de sotaque e vocabulário, calor, pimenta, chuva de terra...
Depois de passar um mês de férias trancada em casa, me rendi e resolvi fazer amigos. E que amigos!!
20 anos se passaram... Itumbiara hoje tem várias rádios, tem caixa eletrônico, cinema, "shopping", isso é pra quem reclama ver que já foi bem pior!!! Muita coisa aconteceu, perdi minha irmã Karol, mas os amigos que fizemos aqui nos consolaram como uma verdadeira família, minha família foi embora e ficar foi uma das coisas mais difíceis da minha vida, mas novamente os amigos se fizeram presentes, me formei, DUAS VEZES, casei (ainda não oficialmente), tenho um emprego que adoro com colegas que amo, e tenho grandes amigos que são o grande peso para eu não mudar daqui!!!
Ah, claro, que eu não poderia esquecer que um certo Francisco Garcia, meu avô e padrinho, uma vez disse que eu iria casar aqui e todo mundo da minha família iria embora, ficando só eu aqui. Ô VÔ, me fala os números da mega sena!!! KKKKKKK
